domingo, 7 de agosto de 2011

Não temo não ser eterno, Temo não ser terno... (Rubens Espíndola)


Marcado por músicas e poesias, o Vale do Jequitinhonha nos foi apresentado por figuras simples e singelas.
Por meio de cordas e verdes paisagens percorremos estradas como se fôssemos o Clube da Esquina e fotografamos a marotice das pedras, as vaquinhas como se estivessem num presépio e os verdes e azuis se sobressaindo sobre o branco.
Era um quadro bonito de se ver, um registro inesquecível, fomos felizes e já sabíamos.
As pessoas abriram suas portas. Deixaram-nos entrar. Entramos como velhos conhecidos, com brincadeiras e discussões, com música, carinhos e atenções.
Era tudo que precisávamos.
Voltamos alegres e com novas esperanças. Gente nova no pedaço. Vovô sorrindo e cheio de amor pra dar. Amada, feliz e gentil.
E todos estamos devendo aos Vales e ao sul. Sul da Costa que um dia já foi frente, violentada  pelos invasores que não perceberam o quanto seria importante entrar sem destruir...
Assim, nossos amigos nos contaram sobre seus índios, seus escravos, seu bicho de carneira e seus bois.
Aprendemos com eles e gostaríamos de compartilhar essa história com quem gostamos...
Ah! ... um abraço de todos nós para o presidente Ésio!

sábado, 16 de julho de 2011

Férias com Guiherme

                                                            (Muito medo da Monga)

Guilherme é um garoto loiro mas diz que queria ser ruivo.
Veio de Mogi das Cruzes para passar algumas horas das férias em São Paulo, mas não poderia demorar. Primeiro foi ver uma exposição que mostrava algumas capas de livros infantis. Gostou bastante, viu capas de caveira, jacarés, sobre palavras, castelos de príncipes e mau assombrados.
Depois foi ver uma exposição sobre robôs e campos minados, mostrou a língua para o scanner e saiu do outro lado já registrado com a língua pra fora, junto com o tio Paulão que sou eu....também mostrei a língua!
Guilherme ainda tinha que visitar o playcenter, sendo que lá ia andar de chapéu mexicano, polvo, splash, turbo, e até a mulher Monga.
Eu bem que falei, “Guilherme, não entre nessa atração, a mulher Monga pode te pegar”
Mas ele não acreditou e entrou assim mesmo, quando ela saiu da jaula, Guilherme correu tanto que chegou em Mogi com o cabelo ruivo de verdade mas ainda em tempo para assistir o último filme de Harry Porter.
Gostaria de saber qual foi o final, mas só saberei nas próximas férias, isto é, se Guilherme não aparecer só por algumas horas. Aí sim, o bicho vai pegar!!!



Com olhos de Edith

Quarta feira, 13 de julho. Trânsito parado, caminho traçado, chegar até o bar do Zé Batidão, nas fronteiras longínquas de Snato Amaro. 
Jardim Angela, São Luís, Capão, Piraporinha, Parque Santo Antônio, não importa, tudo é próximo. Paramos no caminho para perguntar e Dona Vilma que já conhecia o pedaço nos deu a informação derradeira.
O Bar era logo na rua de cima. Lá chegando, fomos recebidos por Sérgio Vaz e sua ‘gangue’. Gangue de respeito, que provoca e faz com que e o outro de enxergue e valorize sua alma.
Enxergar com os olhos de Edith, poetiza da quebrada que fala sobre Castro Alves, Xangai, pondo-se a ver além das fronteiras dos bairros, indo até o Amazonas, denunciando as queimadas e injustiças que vê pelo caminho.
Dona Edith volta pelo sertão e lá encontra com Marcelino freire, lançando seu mais recente livro ‘Amar é Crime’.
Emocionado o escritor une Sertânia com Alemanha, falando  numa língua que nos identifica e é tão importante. Era o Dito.
 Isso dona Edith já enxergava, apenas indicava  mais um caminho para Marcelino, assim como sua mãe que ficou em Sertânia também fazia, e também dona Marina que era do sertão pernambucano e parecia com Dona Edith.
Gostaria que isso fosse um poema, pois teria imenso prazer em recitá-lo no Bar do Batidão. Falaria com o coração e com respeito a todos que ali passam e passarão, os outros passarinhos como dizia o velho poeta. Mas deixo pra outra hora.
As coisas por aqui também tem seu tempo, Tempo de amar e como já disse Marcelino: ‘Amar é Crime’.
Ao fundo, Bruno e Brau tocam blues e os poetas gritam: Uh Cooperifa!!!!
Voltamos com a alma lavada, enxergando mais longe... como Edith.

domingo, 26 de junho de 2011

Ouro de Minas


...Éramos oito, assim constituídos: psicóloga, historiador, advogado, educador, artista gráfico, psiquiatra, presidente, primeira dama e poetas.
A tarde estava bonita e agradável. Uma tarde gostosa, que prometia! Tinha queijos para todos os gostos. Os tons de verde variavam, ora mais claro, depois mais escuro, depois claro e  escuro.
Pra começar, sentamos no “Ultimo Gole”  e fomos logo pedindo uma cachaça. O quintal era grande, depois da primeira lapada no copo, demos um abraço em família. A alegria era geral.
Fomos fazendo o pedido. Primeiro o torresmo de sempre, depois a língua afiada, mais conhecida como língua de vaca com uma couvinha bem verdinha como as montanhas e não se esqueça do tutu.
Comemos e saímos, subimos a pedra, tiramos fotografia e lá do alto vimos o mundo. O Galeguinho quis se amostrar, subiu lá no topo, fazendo trela. Lá municipal. Lá embaixo ríamos.
Demos mais um abraço em família e saímos para o mercado municipal. Falamos da vida, sentimos saudades, torcemos contra, criticamos o técnico e conhecemos uma família bonita e gostosa como aquela tarde.
Esse era  o encanto de Minas! Nosso Clube da Esquina....

O Velho Braga e suas histórias

Rubem Braga, capixaba de nascimento mas filho de coração da terra do Rei, Cachoeiro do Itapemirim. Jornalista das antigas, cobriu guerras, namorou bem, saiu do Espírito Santo e correu o mundão.
Sofreu, amou, conheceu figuras interessantes. Mesmo com a famosa e imbatível moqueca Capixaba da sua terra, não deixou de apreciar a comida e o povo mineiro.
Estava na vida para viver, também gostava de passar a vida para o papel! Quem quiser saber mais sobre Rubem Braga, deve ficar atento à Revista de Literatura que o Instituto Moreira Sales lançará neste mês, sobre suas loucas e doces histórias.
Aliás, vale lembrar que  o velho Moreira Sales era mineiro, nasceu na linda e montanhosa  Cambuí, no sul do Estado de Minas Gerais.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Epitáfio em vida!

Meus amigos, aviso que morri! O que vocês lêem aqui é psicografia pura. Acabo de saber que na receita federal eu não consto, aliás, nem eu, nem o Palocci.
O problema é que agora, tenho que provar que estou vivo, e confesso que tá dando o maior cansaço!!!
Fui abrir uma conta no banco e o nome da  minha mãe no CPF era Izaura e no RG Isaura. Fui até a Receita para corrigir o equívoco, mas lá constava qu eu estava morto, mortinho da silva! Foi quando quase morri de susto.
Mostrei a identidade, o CIC, o PIS, bilhete único, carteira profissional, titulo de eleitor, carteira de estudante e nada. Nada valia como prova da minha existência.
Sobe aqui, desce ali, cinco aqui e dez ali, fui pensando no Kafka, no romance O Processo, em Beckett e seu  Esperando Godot e tantos outros absurdos da burocracia, que não acaba mais, fruto da ditadura, como uma maldição.
Vide o velho Sarney tentando omitir que houve o impeachement do Collor...  Penso no veto do governo ao vídeo para os professores, contra a homofobia, a questão de não podermos escrever como falamos, o código ambiental, a gangue da polícia roubando os caixas eletrônicos, bem... mais absurdo que isso.....
Por favor, devolvam minha vida!!!!!

É Zâmbia na área!

 Logo que saí do metrô, dobrei à direita, depois à esquerda e lá embaixo, avistei Zâmbia tomando um pouco de café num copo de extrato de tomate que hoje serve pra tudo.
Conforme subia a rua, ia pensando naquela partida entre Cascavel e Camarões, quando acabei com o jogo. Ganhamos de dois a um.
Zâmbia era o técnico do Cascavel, eu vi seu olhar de ódio ao ter que me entregar um troféu que ele acreditava já ganho!
Eu pensava que Zâmbia, com o copo apertado na mão direita, olhava para o campo como se esperasse seu time fazer mai um gol.
Mas ao me aproximar, notei que seu olhar estava voltado para mais uma construção de condomínio no mesmo lugar em que Zâmbia era tão considerado por todos.
Vigilante de trem,  Zâmbia contava para seus amigos da CPTM, as aventuras vividas no campo da várzea da zona leste. Para ele, era o acontecimento. Apesar de vigilante, Zâmbia acredita que vacilou, permitiu que a Cohab construísse prédios no campo do Cascavel e a comunidade perdeu mais um espaço de lazer, ficou ainda mais pobre.
Hoje, Zâmbia aguarda ansioso a construção do Fielzão, próximo ao prédio da Cohab, onde ele pensa em se inscrever para adquirir um apartamento popular. Na segunda, vai ao poupa tempo em Itaquera para tirar a carteira de trabalho e decidiu que não quer mais ser vigilante.
E seu grande sonho era treinar o timão, assim como treinou o Cascavel... Salve Zâmbia!!!!

sábado, 28 de maio de 2011

NO PAÍS DOS HOMENS


A literatura africana às vezes ajuda a interpretar com olhares diferenciados certos momentos políticos que acontecem longe dos nossos olhos.
É o caso de “No País dos Homens”  de Hisham Matar, escritor que nasceu em New York, de ascendência Líbia, que passou a infância em Trípoli e no Cairo.
Hisham retrata o ponto de vista do pequeno Suleiman, que sob o efeito de alguns fantasmas da vida tenta decodificar uma Líbia incomodada com abusos da polícia política patrocinada  pelo todo poderoso Muhamar Al-Kadhafi.
Alcunhado de Filho do Deserto, símbolo de esperança e liberdfade, Kadhafi controla com mãos de ferro, um país com vários interesses econômicos e com posição geográfica estratégica, próximo à Itália, Egito e Grécia. Ora, apoiada pelos EUA, ora por Sarkozi e ora por Berlusconi.
Adepto entusiasmado do Bunga-Bunga, coreografia usada aos montes nos puteiros da Itália, Kadhafi junto com seu filho, comprou metade de um tradicional time da Itália, a Juventus. Também dava dinheiro às Universidades Inglesas onde seu filho conseguiu doutorar-se.
Carneirinho fora do país, Kadhafi torna-se um lobo sanguinário e faminto.
Insaciado na ganância do capital e do poder,  incontrolável na perversidade, o todo poderoso não mede sacrifícios para afastar de seu caminho aqueles que não concordam com suas idéias, suas atitudes, suas explorações, seu sadismo e outra enorme gama de valores.
Resta a esses insubordinados, serem taxados de contra revolucionários e serem julgados no estádio nacional de basquete, por um júri ligado à família e aos amigos do todo poderoso.
O resto já sabemos, muito parecido com o que Pinochet patrocinava no Chile e que nossos milicos tão bem desempenhavam no Brasil.
Só que tudo isso assusta crianças e adultos e o garoto Suleiman queria apenas contar essa história e entender um pouco mais sobre o seu país de homens.


Matar, Hisham. No País dos Homens.  Companhia das Letras. São Paulo. 2007.

domingo, 8 de maio de 2011

O lugar onde eu moro...


Moro na cidade Patriarca há mais de 20 anos. Tenho família no bairro e também fora dele. Trabalho, estudo e cuido de casa. Acho interessante morar na Cidade Patriarca, pois apesar da distância, é um lugar tranquilo, com aspecto de interior, devido à suas praças e o pouco barulho de trânsito.
E o que tem de bom? O sossego, apesar de ter poucas atividades de lazer. Não tem cinema, teatro, clubes ou praças de esportes. O que eu gosto mesmo, é do sossego, apesar da falta de lugares para o lazer e de espaços culturais como bibliotecas etc.
A diferença da Patriarca com os outros bairros, na minha opinião, é a calma que existe por aqui. Geralmente procuro ler quando estou no transporte coletivo, aproveitando esse tempo, que às vezes é demorado. Para sair desse bairro, só mesmo mudando de Estado.
Gosto muito de voltar para casa, pois me sinto um pouco fora da realidade de São Paulo, calmaria, sossego, sem barulho... É sempre bom ter um cantinho tranquilo para morar.
Que atividades gosto de fazer? Gosto de ler, ir ao cinema, assistir shows, teatro, visitar amigos, dançar e namorar.
O que poderia fazer para melhorar o lugar que você mora? Juntar-me com alguma associação de moradores, no sentido de cobrar do poder público, políticas condizentes com as propostas eleitorais.
Pensando no lugar que olho todos os dias, acho que as coisas podem ser diferentes, às vezes em virtude das próprias transformações dessas coisas, objetos, natureza, como também pela nossa influência em transformá-las.
Se for animal doméstico, as mudanças de lugares, provocadas às vezes pelo dono, ou pelo próprio cachorro, principalmente na perfieria onde fica solto mas quando a carrocinha passa tem que estar amarrado. E os gatos que dependendo da fase e dos venenos na comida ficam mais recatados.
A sensação de olhar para algo que com frequência passamos e não notamos, depende muito do  momento em que estamos e da nossa sensibilidade para um novo olhar, pois para mim, este fato novo, não passa a existir a partir de meu olhar difetrenciado. Ele já existe de certa forma, mas o jeito de vê-lo, às vezes com certo desdém, é como se não existisse, ou não tivesse valor.
O mundo com olhares de todos os seres, talvez fosse bem mais interessante do que um mundo com um único olhar, que talvez seja o mundo no qual estamos vivendo agora! Um mundo com o olhar da ganância, do poder, do mais forte.
Esse outro olhar, o da contra indicação, da contra corrente, iria deixar o mundo bem mais interessante, mais colorido e menos sombrio.
Para onde eu costumo olhar mais? Para o distante, desde que eu possa enxergar um pouco.

Os dedos cheios de Deus

Sinto saudades do Teatro Adoniran Barbosa, principalmente quando acontecia o Projeto das seis e meia.
Assisti vários shows, grandes talentos da música brasileira. Lembro-me de Monarco começando em São Paulo, Martinho da Vila, João Nogueira e tantos outros.

Foram momentos especiais de muita música boa! Dos espetáculos que mais me emocionaram, lembro-me especialmente do Show do Guinga. Nesse dia, consegui entrar antes do início da apresentação e assisti o Guinga ainda passando o som.
Por descuido técnico, o som estava alto e Guinga pediu com toda a delicadeza para o técnico abaixar um pouquinho.
Durante o Show, Guinga foi excepcional. Apresentou-se com a mesma delicadeza com a qual se dirigiu ao técnico de som durante o ensaio, o que fez o público se encantar ainda mais com seus “dedos de Deus”.
Quando o show acabou, Guinga apresentou os técnicos de luz e som se desculpando por achar que havia sido ríspido com um deles quando pediu para que abaixasse o volume.
Claro que não foi ríspido, eu estava lá como testemunha!
O que também marcou esse encontro foi um abraço coletivo do público com o artista, proposto por Guinga e comemorado entusiasmadamente por mim e Zé Maria que também estava na platéia.
Naquela noite fui dormir feliz por ter conhecido mais de perto um dos Deuses da música, cheio de dedos... Santos dedos... na cartola do Adoniran. Já era bem mais que seis e meia!

Na Galeria

Apesar de não gostar muito de Rock, sempre gostei de samba-rock quando comecei a freqüentar a galeria.
Precisava cortar o cabelo e me indicaram um barbeiro novo que estava fazendo a cabeça da negrada.
Saí do salão com um excelente Black feito por Gê e graças a ele, no baile da noite fiz o maior sucesso. Minha estética foi aprovada!
Voltei no mês seguinte e fui subindo para outros andares, descobri outras coisas, outras cores, outras músicas, outros estilos e porque não, outras estéticas.
Visitei lojas de máquinas fotográficas, discuti sobre fotografias, apreciei o preto e branco, fotografei com a rolei-flex e voltei para o futuro.
Chegando lá, vi punks com e sem cabelos, pretos, brancos, vermelhos, azuis. Assisti ao desfile de modas, diferentes do meu cabelo Black, com outros coloridos. Vi uma nova estética, tudo em 3D e tudo bem, cada qual, no seu cada qual!

Paulo
Abril de 2011

O Samba de Carolina Noemia de Souza

No oco salão de baile
Cheio de luzes fictícias da civilização
Dos risos amarelos
Dos vestidos pintados
Das carapinhas desfrisadas da civilização
O súbito bater da bateria do jazz
Soou como um grito de libertação
Como uma lança rasgando o
Papel celofane das composturas forçadas

Depois,
Veio o som grave do violão
A juntar-lhe o quente latejar das noites
De mil ânsias de mãe África
E veio o saxofone e o piano
E as maracás matraqueando, ritmo de batuques
E todo salão deixou a hipocrisia das composturas encomendadas
E vibrou
E vibrou ....

As luzes fictícias deixaram de existir
E quem foi que disse que não era o luar de Shigombelas
Aquela luz suave e quente que se derramou no salão
Quem disse que as palmeiras e os coqueiros
Os cajueiros,
Os comboleiros,
Não vieram com suas silhuetas balouçantes
Rodear o batuque.

Ah na paisagem familiar
Os risos se tornaram brancos como mandioca,
Os requebros na dança traziam a febre primitiva
De batuques distantes
E os vestidos brilhantes da civilização, desapareceram.
E os corpos prosseguiam vitoriosos,
Sambando e chispando,
Dançando, dançando

Os ritmos fraternos do samba
Trazendo o feitiço das macumbas,
O claro Bater das marimbas gemendo
Lamentos despedaçados de escravos
Oh ritmos fraternos do samba quente da Bahia
Pegando fogo no sangue inflamável dos mulatos
Fazendo gingar os quadris dengosos das mulheres

Entornando sortilégio e loucura
Nas pernas bailarinas dos negros. 
Ritmos fraternos do samba
Herança de África que os negros levaram
No ventre sem sol dos navios negreiros
E soltaram carregados de algemas e saudades
Nas noites mornas do Cruzeiro do Sul.

Oh ritmos fraternos do samba
Acordando febres palustres no meu povo
Embotado das doses do quinino europeu
Ritmos africanos do samba da Baia
Com maracás matraqueando compassos febris
O que é que a baiana tem, que é?
Violões tecendo sortilégios
E atabaques soando secos, soando

Oh ritmos fraternos do samba
Acordando meu povo adormecido dos emboladeiros
Dizendo na sua linguagem encharcada de ritmos
Que as correntes dos navios negreiros não morreram não,
Só mudaram de nome, mas ainda continuam, continuam...
Oh ritmos fraternos do samba!

Que samba é esse?

Há uma pergunta em Noêmia Carolina à Carolina de Jesus: ‘O que significa o samba na cultura brasileira?’
Carolina em seu barraco de madeira, dentro do Museu Afro se incumbe de abrir as portas da literatura e contar algumas histórias.
Histórias parecidas com as suas, negra retinta que chegou ainda criança de Sacramento, Minas Gerais, direto para uma casa de madame em São Paulo, onde Carolina se alegrava quando ia tirar o pó dos livros novos, nunca lidos, esquecidos que estavam na estante da madame.
À noite, esperava a madame dormir para voltar às estantes e viajar até Sacramento, através de histórias parecidas com as que seu avô, famoso contador de causos do sertão mineiro, preenchia o imaginário da neta pretinha.
Para ela, ele era o seu  Sócrates Africano e descobriu isso quase por acaso.
Levou essa lembrança consigo por toda vida, tornou-se escritora, descoberta por um jornalista na porta de seu barraco, numa favela no bairro de Canindé, hoje um estádio de futebol, onde ela sentava-se todas as tardes, após chegar com seu carrinho carregado de papelões, ferros, jornais e às vezes livros.
Livros esses, não tão novos como os da casa onde trabalhava, mas bons o suficiente  para preencher seu diário com aquelas palavras bonitas.
Quarto de despejo, diário de uma favelada. Carolina falou da vida, do seu dia a dia, das feridas da alma, da sua luta, de seus amores e de seus filhos.
Conseguiu juntas alguns trocados, um pouco mais do que conseguiu com seu carrinho e foi morar bem longe, numa casa de alvenaria, que deu título ao seu segundo livro publicado, que relata sua vida fora da favela, onde era rechaçada só por querer escrever. Até seu novo Bairro com características mais nobres a discriminava por ser a única negra com três filhos pra criar, sem marido e que ainda por cima não dependia de ninguém para lhe sustentar.
Seus direitos autorais conseguidos através do livro Quarto de Despejo, editado em mais de 20 países, foram suficientes para que Carolina se motivasse para gravar um long play com composições sua.
Mas mesmo assim, uma hora a fonte secou e Carolina teve que voltar às ruas, acompanhada de seu velho carrinho de madeira, grande conhecedor de becos e vielas de onde Carolina poderia tirar o  sustento para sua vida e de seus filhos sem pai.
Essa é a resposta de Carolina de Jesus à Carolina de Souza lá do outro lado do Atlântico.
Esse também é o nosso samba!

Paulo
Abril de 2011

sábado, 7 de maio de 2011

Tempero da Vida

Uma porção de sal ou açúcar, está aí a diferença sobre como saboreamos o abacate. De um lado no desjejum, de outro, na sobremesa e cada um se acerta conforme o paladar...
Aqui tem raiz verde e lá também, em outras paragens há buchada com coentro e cheiro verde. Verde de esperança numa vida que sem tempero fica difícil de levar!
Algumas palavras adicionadas ao encanto, um pouco de emoção, uma dose de tolerância, eis a melhor receita para se degustar uma deliciosa paeja, que feita com carinho faz lembrar o sarapatel com cordel, ou uma boa  feijoada acompanhada  de samba ou blues.
E tem também o açaí, o caruru ou cururu, putchero, simbomba, a zabumba pra alegrar, trovas e trovão também pode ser uma possibilidade e uma ocasião par se falar dos verdes temperos da vida!