quarta-feira, 22 de abril de 2015

Carne seca no Picuí


ideia teria sido boa, não fosse a presença do Ruizão. Foi assim que Maurão enviou a mensagem pros 'Ão' -  Paulão, Tião e Eduzão.
Um bom prato, três geladas por conta da casa, mesa no quintal, com direito a assistir o futebol. Mal sabiam que tudo tinha sido aprovado, inclusive o jogo... mas o problema era outro.
Maurão, como numa provocação, insistia na carne seca, esquecendo-se que Ruizão, foi amamentado à base da ‘malvada’, passou a adolescência lustrando-a para que ficasse brilhante e na idade adulta foi obrigado a 'cortá-la' como se regesse uma orquestra sinfônica. 
Mão aqui, mão ali, corta aqui, corta acolá... Como se fosse Chiquinha Gonzaga, só não cortou jaca.
A delicadeza era a mesma, como se fosse uma pauta musical, Ruizão deslizava a peixeira e ia apreciando aquele aroma de carne seca, crua, até 'cair no choro'.

E, sendo assim, eu proponho uma punição para o Maurão, que foi o verdadeiro provocador dessa situação, quando sugeriu nosso encontro no Picuí, rodeado de carne seca:

1 – Que bebamos nossas águas de coco, nossos sucos e chás gelados.
2 – Que ele componha um choro pro Ruizão, ‘o choro do jabá’.




Paulo Rafael

22/04/2015 

Juve 2 X Canole 3


O Juventus, famoso time de futebol da Mooca, voltou a me dar alegrias neste domingo que passou. Nem tanto pelo jogo em si, mas pelos barbados suados e mocinhas cheirosas na fila do canole, aquele docinho que vem num tubo de massa tostadinha, originária da Mooca com residência na Rua Javari.
Mas voltando à fila. Enquanto o jogo corria com o Juve massacrando o adversário, bolas nas traves, pênaltis não marcados enraiveciam a jovem e velha guarda que unidos e como cantores de uma grande ópera gritavam em uníssono:
Hei Juiz, vai tomar no cú!
Um jovem de camisa amarela era o mais exaltado, subia nos alambrados e gritava ‘traz logo essa droga de canole’.
Da fila, eu escutava, mas não conseguia sair do lugar, a fila não andava, enquanto eu ia rememorando o que representava o velho Juve pra mim...
‘Sou da Mooca meu!’, era uma camisa grená que passava direto, rumo à loja ao lado da fila. Essa camiseta por acaso era de um cara cabeludo e barbudo, com saudades do tempo do Toninho Minhoca, do Milton Buzzeto e do Clóvis.
Chorava pra dentro e da loja mesmo acenava pra outro amigo de óculos escuros, na fila que segurava a mão do seu filho e explicava que naquele lugar em que se encontravam, havia histórias bonitas e engraçadas.
Tinha aquela do gol do Pelé que todos viram, mas que ninguém filmou, havia muitos gols de bicicleta, inclusive do Leônidas e também gols de dente de leite e pênaltis defendidos por Heitor, Mão de Onça, Miguel e Cabeção.
Sim, o Juve é um clube respeitado, não somos 15 como dizem, somos 13, somos vários, somos milhões, o mundo é grená, a Mooca é grená, a rua javari é grená.
Da fila vi o resultado do jogo, através da vibração do jovem que continuava gritando, Juve 2.
E da fila, também olhava a tabela fixada na parede atrás do vendedor, para quem eu pedia Canole... 3.