domingo, 8 de maio de 2011

O Samba de Carolina Noemia de Souza

No oco salão de baile
Cheio de luzes fictícias da civilização
Dos risos amarelos
Dos vestidos pintados
Das carapinhas desfrisadas da civilização
O súbito bater da bateria do jazz
Soou como um grito de libertação
Como uma lança rasgando o
Papel celofane das composturas forçadas

Depois,
Veio o som grave do violão
A juntar-lhe o quente latejar das noites
De mil ânsias de mãe África
E veio o saxofone e o piano
E as maracás matraqueando, ritmo de batuques
E todo salão deixou a hipocrisia das composturas encomendadas
E vibrou
E vibrou ....

As luzes fictícias deixaram de existir
E quem foi que disse que não era o luar de Shigombelas
Aquela luz suave e quente que se derramou no salão
Quem disse que as palmeiras e os coqueiros
Os cajueiros,
Os comboleiros,
Não vieram com suas silhuetas balouçantes
Rodear o batuque.

Ah na paisagem familiar
Os risos se tornaram brancos como mandioca,
Os requebros na dança traziam a febre primitiva
De batuques distantes
E os vestidos brilhantes da civilização, desapareceram.
E os corpos prosseguiam vitoriosos,
Sambando e chispando,
Dançando, dançando

Os ritmos fraternos do samba
Trazendo o feitiço das macumbas,
O claro Bater das marimbas gemendo
Lamentos despedaçados de escravos
Oh ritmos fraternos do samba quente da Bahia
Pegando fogo no sangue inflamável dos mulatos
Fazendo gingar os quadris dengosos das mulheres

Entornando sortilégio e loucura
Nas pernas bailarinas dos negros. 
Ritmos fraternos do samba
Herança de África que os negros levaram
No ventre sem sol dos navios negreiros
E soltaram carregados de algemas e saudades
Nas noites mornas do Cruzeiro do Sul.

Oh ritmos fraternos do samba
Acordando febres palustres no meu povo
Embotado das doses do quinino europeu
Ritmos africanos do samba da Baia
Com maracás matraqueando compassos febris
O que é que a baiana tem, que é?
Violões tecendo sortilégios
E atabaques soando secos, soando

Oh ritmos fraternos do samba
Acordando meu povo adormecido dos emboladeiros
Dizendo na sua linguagem encharcada de ritmos
Que as correntes dos navios negreiros não morreram não,
Só mudaram de nome, mas ainda continuam, continuam...
Oh ritmos fraternos do samba!

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