Herta
Miller, uma escritora romena, recebeu o prêmio Nobel de literatura em 2009.
Poetisa, ensaísta e romancista, Herta bate na tecla do tempo em que era
esperada pelo serviço secreto romeno, tendo seus passos seguidos por todo o
sempre, assim como Caetano Veloso e
Chico Buarque, dentre tantos outros, foram perseguidos na ditadura militar.
Recebeu
convite para se tornar espiã, foi perseguida no trabalho, teve vontade de
morrer, estes e outros temas, fazem com que o livro de Herta se assemelhe com
outros dois livros escritos por
brasileiros.
São
eles: Passageiro do fim do dia, escrito por Rubens Figueiredo e editado pela
Cia das Letras e Estive em Lisboa e
lembrei de você de Luiz Ruffato, pela mesma editora.
Rubens
descreve o trajeto de um passageiro que ao final do dia , cansado, lendo um
livro de Darwin, sobre o Rio de Janeiro descrevendo as paisagens e a natureza
das espécies.
O
tempo para o passageiro é monótono e intenso como o de Herta, tempo de muita
pressão. Pressão pelo poder, oficial ou paralelo. No caso de Herta, o poder
aparece sob a análise de Canetti, pensador italiano que diz: ’O poder quer sempre
crescer, seu crescimento não tem limites impostos pela natureza.’
Natureza
carioca de Darwin e o poder paralelo de Rubens é o que faz com que o passageiro
do fim do dia sonhe em pé, dentro de um ‘ônibus lotado e sem rumo’, com o prato
preparado, com as compras do mercado feitas por ele e sua companheira.
Já
Herta começou a sonhar nas escadas da fábrica onde trabalhava, pois era preciso
fazer mais do que era possível ser dito.
Sonhos
apesar das dificuldades, necessidade de encontros.
Já
Ruffato, com seu personagem Serginho, sonha com a possibilidades de ter um
descanso em Cataguases, norte de Minas, mas pra isso terá que passar por
Portugal, destino de vários brasileiros, caboverdeanos, guineenses, angolanos,
moçambicanos, saotomeenses, ó pá!
Sonham
em decifrar seus próprios códigos e também os alheios, para através disso, tornarem-se parecidos com os
personagens de Herta e de Rubens, mas sem nunca esquecer que Herta, Caetano e
Chico, dentre tantos outros, tiveram seus sonhos em parte, interrompidos.
Paulo
Rafael da Silva
Julho/2012