domingo, 17 de junho de 2012

Bispo do Rosário - A Poética do Delírio.


Artur Bispo do Rosário nasceu em 1909 na cidade de Japaratuba no Estado de Sergipe. Filho de negros católicos, foi educado em meio a uma cultura caracterizada pela mistura de elementos afro brasileiros.
Japaratuba é uma pequena cidade localizada a 54Km de Aracajú, e no século XVI era povoada por seis tribos indígenas, uma delas, comandada pelo cacique Hiparatuba. Esse nome é composto pela junção das palavras Tupi-Y (rio), apara (volta) ituba (frequência, repetição), que remete a ideia de rio de muitas voltas.
O nome da cidade carrega uma simbologia recorrente na vida de Bispo. A população indígena local, teve destino triste. Um surto de varíola fez com que muitos índios abandonassem suas tabas, o que abriu espaço para muitos missionários. Surgoiu então, a missão Japaratuba.
O termo missão, muitos anos mais tarde apareceria num pano bordado por Arthur Bispo do Rosário. Índios e negros foram convertidos à fé cristã.
Japaratuba em datas festivas, através de suas bordadeiras e costureiras, se enfeitava com mantos, enfeites, pontos de cruz, redendês, para compor desenhos e salpicar brilhos nas fantasias.
Dia de reis, nossa senhora do rosário, são Benedito, e a chegança, com marujos, grumetes, toda a hierarquia da marinha, batalhas travadas entre cristãos e mouros, foram elementos recriados em sua obra.
Com 15 anos, Bispo acompanhado de seu pai, alistou-se na Escola de Aprendizes da Marinha. Começou como Grumete, sua tarefa era a manutenção da limpeza à bordo, depois subiu na hierarquia e foi promovido a sinaleiro chefe, como se fosse um comunicador de situações a grande distância e seus braços pareciam que ensaiavam um ágil balé de bandeiras vermelhas e azuis.
O maestro Artur Bispo do Rosário dirigia o espetáculo. No período que serviu à Marinha, Bispo foi boxeador. Coisas referentes ao boxe foram registradas em seus bordados. Neles encontram-se nomes de lutadores, seus contemporâneos. Pugilista português, Antônio Mesquita, Marujo e Agenor Gurgel.
Na semana de natal de 1938, apareceu um grupo de anjos comunicando ao Bispo que ele havia sido eleito pelo todo poderoso e sua missão na terra consistia em julgar os vivos e os mortos e em recriar o mundo para o dia do juízo final, fora ‘Escolhido’.
Foi levado para a Colônia Juliano Moreira onde ficou 51 anos construindo entre outras coisas, o manto para recepcionar seu Pai (Deus) no dia do Juízo final.
Bispo criou com pedaços de sua história pessoal, resíduos da nossa sociedade, um mundo encantado. Miniaturas vitrines, embarcações e estandartes e bordados, vestimentas e objetos diversos, como nas festas que via em Japaratuba.
Seu manto de apresentação para a chegada de Deus, pode ser comparado a um Parangolé de Hélio Oiticica, escritos com as letras do profeta gentileza. A vida transformada em arte.
Arte feita com carretéis, carrinhos de criança, carros de boi, peão, ioiô, canecas, congas, colheres, sapatos, papelão, plásticos, botões, colares, estátuas, bonecas, rodas de bicicletas, vasos sanitários, bolsas, veleiros, camas de Romeu e Julieta em homenagem a sua grande paixão, a psicóloga Rosângela.
Bispo recriou seu mundo através do delírio, seu mundo ficou do seu jeito, carnavalizou a vida e espera que agora,  a Flor do Dalila faça os mantos para os Bispos, todos os loucos do planeta, pois loucura pouca é bobagem!