quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Sempre a mesma neve, sempre o mesmo tio...


 
Herta Miller, uma escritora romena, recebeu o prêmio Nobel de literatura em 2009. Poetisa, ensaísta e romancista, Herta bate na tecla do tempo em que era esperada pelo serviço secreto romeno, tendo seus passos seguidos por todo o sempre, assim como Caetano Veloso  e Chico Buarque, dentre tantos outros, foram perseguidos na ditadura militar.
Recebeu convite para se tornar espiã, foi perseguida no trabalho, teve vontade de morrer, estes e outros temas, fazem com que o livro de Herta se assemelhe com outros dois livros escritos por  brasileiros.

São eles: Passageiro do fim do dia, escrito por Rubens Figueiredo e editado pela Cia das Letras e Estive em Lisboa e lembrei de você de Luiz Ruffato, pela mesma editora.
Rubens descreve o trajeto de um passageiro que ao final do dia , cansado, lendo um livro de Darwin, sobre o Rio de Janeiro descrevendo as paisagens e a natureza das espécies.

O tempo para o passageiro é monótono e intenso como o de Herta, tempo de muita pressão. Pressão pelo poder, oficial ou paralelo. No caso de Herta, o poder aparece sob a análise de Canetti, pensador italiano que diz: ’O poder quer sempre crescer, seu crescimento não tem limites impostos pela natureza.’
Natureza carioca de Darwin e o poder paralelo de Rubens é o que faz com que o passageiro do fim do dia sonhe em pé, dentro de um ‘ônibus lotado e sem rumo’, com o prato preparado, com as compras do mercado feitas por ele e sua companheira.

Já Herta começou a sonhar nas escadas da fábrica onde trabalhava, pois era preciso fazer mais do que era possível ser dito.
Sonhos apesar das dificuldades, necessidade de encontros.

Já Ruffato, com seu personagem Serginho, sonha com a possibilidades de ter um descanso em Cataguases, norte de Minas, mas pra isso terá que passar por Portugal, destino de vários brasileiros, caboverdeanos, guineenses, angolanos, moçambicanos, saotomeenses, ó pá!
Sonham em decifrar seus próprios códigos e também os alheios, para  através disso, tornarem-se parecidos com os personagens de Herta e de Rubens, mas sem nunca esquecer que Herta, Caetano e Chico, dentre tantos outros, tiveram seus sonhos em parte, interrompidos.

Paulo Rafael da Silva
Julho/2012

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